Postagens

 

Já me disseram que tudo começa no princípio; também disseram que princípios não se constroem em mesa de bar; como disseram que se constroem, sim. Ora, já me disseram coisa para caralho, com o perdão da palavra. E, no fim, decidi que quem diz e faz sou eu: e do meu jeito. Imprimo meu ser e assino. Assinado eu, assinado quem?! Somos seres assinantes, e enquanto nomes, para mim, às vezes são apenas e somente nomes, outras vezes são muito mais que isso. Se analiso discursos, nem sempre conheço tudo o que encontro; porém, quando é necessário, me procuro.

Na época em que matutava criações escritas e uma assinatura, em mesa de bar ouvi pela primeira vez algo que me caiu como uma luva. No terraço do Maletta, eu estava em fase boa: muitos planos, um fósforo aceso no peito, prestes a mudar de cidade (não sabia ainda, mas me aguardavam algumas noites frias do curso noturno ou alegrias da bochecha vermelha com o álcool no forró). À minha frente, algumas amizades e uma comanda cheia – preocupante!. O ar cheirava a molho. Ao meu lado se sentava meu dengo. 

- Foi engraçado, olha só...

Surgiu no engraçado e depois tornou-se um pouco mais complexo, mas bonito. Quem falava...

...CLIQUE AQUI PARA LER A CRÔNICA DE ABERTURA E PRINCÍPIO DA LEBIsCA

Ônibus de viagem

               Organizava papéis para fora de uma mala: rasgou alguns dias do calendário sem querer e percebeu que cada um cabia numa estação. Nem sabia por onde começar a repor. É que o ano dos brasileiros começa no verão (no início ou no fim dele, a depender do quão carnavalesco se considere pela espera).  E o verão é calor, luz, suor, prazer, descanso, correria, cuidado, reencontro, distancia, respiro, caos, delícia, espuma, amarelo, ladrilho, pele. Tem estresse? Tem. Contudo, verão é presença do trópico. Reclama quem quer, aproveita quem pode, vive quem tá vivo, sofre e goza.  E aí depois? Depois vem o outono. Quem gosta do outono? Quem é o sujeito do outono, quem vive o outono? Penso em algumas respostas. Quem, afinal? De quem é o outono? Dos sensíveis? Dos cansados? Dos descansados? Intermedios, intermeios, conversas, despertar dos sonhos ou sonhar desperto? Será que não é no outono que mora um masculino feminino? Ou a reflexão...?   Brisa. Preparação. Pássaro e silêncio.

Gozo de lembranças

  Calores demais. Só não sei se cabe dizer que foi “mais que deveria” quando afinal não devo nada a ninguém – exceto, talvez, a ela. E olhe lá. O gozo de lembranças martela a cabeça de quem sabe que o melhor que já pôde sentir foi amor e corpos fluidos. Ela leu meu corpo antes de ler meus versos; eu achei tudo bem. Isso porque também muito antes de ter coragem de ceder um livro, cedi um olhar perdido. Aquele olhar que trocamos, junto de uma meia bochecha suspensa, face de atração safada que surgiu vendo uma deusa tirar a blusa. Nos sons, os dedos escorregam tão felizes quanto a boca. Da janela entrava só meia luz da tarde. E os vigias cristãos cheios de santos deviam estar longe, numa casa de madeira velha em um sítio distante. No quarto não tinha santo, só nós duas bonitas de carne. Eu tinha chegado meio sem jeito e não sabia nem onde pôr a bolsa; já ela me fitava com convites brilhantes que tinham ares de ordem. Claro que tentei jogar papo fora e percebi que estava nervosa – vá e

Piquenique com coquetel

 Não gosto de bolo de fubá. Nem de milho. Nem olho para as receitas - não quero vê-las de novo. Gosto de café sem açúcar – não mascaro nada além do necessário. Aqui, quem quer sentir, sente, quem quer entender, entende: para bom entendedor, meia palavra basta. Como numa conversa de piquenique atravessada por alguma ferpa. Do piquenique, existem dois tipos. Os itens são similares, o contexto é diferente. Com amor, é lindo: eu e ela, naquele dia, não comemos desses bolos; mesmo que na rodoviária, depois, eu tenha tomado um café. Foi assim: almoço, bar, praça, rodoviária, solidão temporária (no máximo quinze dias...). Alguém - as duas - iam para outra cidade, ela queria testar um piquenique. Fizemos. Uns biscoitos, algo super processado, suco, uma garrafa - de rolha -, um pano no chão, ar livre para respirar, carinhos. Tiramos duas fotos muito bonitas. Senti muito amor e carinho no peito. Esse foi dos piqueniques calmos. Na época conseguia com mais facilidade não pensar no caos. É que

Deu errado

  Ri ontem da ingenuidade de quem me olha e não me lê: recordações de uma conversa que seria crônica se não parecesse microconto. Gêneros a parte, não se tome cuidado e há sempre a chance desentendimentos, e em papo de sexo... Aconteceu faz tempo. Sexta-feira à tarde, brotavam as conversas debochadas entre risos safados. Casos de bochechas vermelhas e felizes. Histórias que teriam classificação 18+ e são trocadas entre faces amigas. Havia, também, as semiconhecidas. A mesa amarela já tinha muitas manchas, mas ninguém se importava. Na quinta ou sexta cerveja estávamos todas cheias de reclamações bem humoradas. Primeiro falamos de gelo no corpo. Depois, o papo ficou cilíndrico. Uma disse algo sobre comprimento. A outra sobre a qualidade de certos brinquedinhos. A outra, sobre grossura. Unindo tudo, entrei também no assunto, bêbada e com uma pilha de pequenos fracassos sexuais para desabafar: - Teve uma vez que inventamos de tentar colocar duas, três camisinhas ( - Quê?) no treco lá

Da fantasia

  Falo de um tempo em que tive minha primeira ida àquela cidade cinza, mas cidade dela. Relacionamento a distância? Para deixar bem explicada a sensação, vou ter que dizer assim, na bruteza: cheguei a Divinópolis com o coração na boca e o cu na mão.  Nada mais esperado de uma apaixonada que visite outra.  Ali, na casa de dois médicos que poderiam decidir arrancar meu coração com auxílio de um bisturi, apenas para tentar entender os batimentos cardíacos desta sapato 48 que vos fala... Bom, segui meu coração. Ponhamos de lado as brincadeiras de bisturi dos sogros. Após o "oi", perguntei se eu poderia entrar - com medo da cadela de 20 centímetros que me estranhava. Tive comigo mesma a ideia de que se eu fosse uma má pessoa os cachorros já sentiriam isso com antecedência. Por que me acusar com tanta pressa? Coisa de “101 dálmatas”. Em seguida, fiz nota mental de ir mais à terapia. Não havia motivo algum para me rotular de Cruela Devill , além dos latidos de cães que nunca havia

Estava difícil sonhar...

E inda assim eu sonhei, porque parece que estão deixando.  Agora as notícias correm. Leio textos e textos. Esses dias vi uma ingenuidade encarnada dizendo que uma mula de faixa verde e amarela conseguia urrar um debate melhor do que um certo Ex. De todos nós, viu? Aquele “ex” que você está pensando... Graças a Deus ele anuncia volta. Ao fundo de minha cabeça, tocava a música que eu conseguia já ouvir de antecedência; aquela de quando picassem essa mula e eu pudesse tomar uma cerveja feliz (uma de gente vacinada).  Vacinada contra tamanha ignorância, o que fiz foi rir comigo mesma do destro da internet. Deve estar lá até agora, falando bobagens, abanando o rabo para alguém lá do planalto. Com uma cola de quinta série e sem presença em nenhum debate a sério (é o esperado: mula não conversa, mula gosta mesmo é de dar coice, empacar, morder, ou é mula mansa para quem sabe tocar seu rabo). Paciência: paciente eu sou, mas não com isso - que saia fora.  Não se mencione a covardia... Ou o sadi

Imagem frágil

Imagem
  - Lacan, seu filho da puta. - e disse isso sentada à mesa, lendo ou pensando; me olharam sem entender.  Mais tarde, falei de novo, mas foi nua em frente ao espelho. Em certo tempo a mulher que eu amo teria dito que sou linda e mais algumas intimidades, eu teria sorrido sem jeito e lhe beijado com calor; não era a beleza o ponto... Mas o eu. Apesar do que, esse mesmo eu com ela é de mais beleza. Meses atrás, num pulo de quase um ano – que ano... – e numa desanuviação mais ingênua que arrogante, eu fiz as pazes com o espelho; ou não cheguei a isso, mas ao menos com o fato de o espelho quase não me reconhecer mais. Bom sinal. Nem eu a ele... Mudei, sorria mais, parecia outra mulher e mais mulher do que caco; vidro; pedaço de reflexo quebrado. Parecia mais o ser do que isso... Mas era apenas uma reflexão do eu. Depois de muito falar e falar e achar que tudo tinha falado, me responderam: - Quê? Encasquetei com minha falta didática e minha burrice. - Deixa para lá, não entendi o su